sábado, 3 de dezembro de 2011

FAMILIAS COM CRIANÇAS EM RISCO TÊM NOVO METODO DE AUXILIO

Por Magda Cunha Viana

Uma investigadora da Universidade de Coimbra inverteu o paradigma da crianças em risco e criou um projeto que se centra no apoio às famílias em vez de retirar as crianças.

Ana Teixeira de Melo, psicóloga, investigadora da Universidade de Coimbra considerou que o método usado para apoiar crianças e jovens em risco está ultrapassado. Ana Teixeira de Melo, psicóloga, defende que é necessário considerar os problemas da família em que se insere a criança em risco como sede do problema, vendo a família como um todo, em vez de retirar as crianças às famílias com ações dos tribunais ou pelas comissões de proteção de crianças e jovens (CPCJ).
A investigadora criou assim o Modelo de Avaliação e Intervenção Familiar Integrado (MAIFI) destinado a apoiar as comissões de proteção de crianças e jovens e os tribunais. O objetivo final é avaliar se é ou não possível manter a criança na sua família e apoiar o núcleo familiar de maneira a garantir a segurança e o bem-estar do menor, e se é possível controlar o risco a que está exposto, disse Ana Teixeira de Melo ao i. “Nós sabemos que os tribunais e as comissões têm muita dificuldade na condução dos processos de avaliação, por falta de metodologia e de instrumentos, e orientações adequadas à nossa realidade”, afirmou.
O modelo da investigadora dá formação aos profissionais para que possam conduzir as avaliações e dar resposta a um conjunto de questões que são importantes para decidir o futuro das crianças, segundo a investigadora, que já viu o projeto posto em prática em sete concelhos do país, junto de 67 famílias, através de centros de apoio familiar e aconselhamento parental, em ligação com os seus parceiros locais (CPCJ, tribunais e Segurança Social).
Desenvolvido e avaliado ao longo dos últimos quatro anos, o novo modelo de intervenção diferenciada necessita da adoção em pleno, ou seja, “de uma mudança radical nas políticas de funcionamento do sistema”, disse ao i.
Esta necessidade resulta da exigência de uma grande flexibilidade das instituições e dos profissionais. Sendo muito centrado nas famílias, não se coaduna com horários rígidos, dado que a equipa tem de estar disponível 24 horas por dia e tem de ter autonomia, alerta Ana Teixeira de Melo. Com “a crise que o país atravessa, o número de famílias com dificuldades vai aumentar seguramente, o que exige a adoção de mecanismos que as fortaleçam. Os modelos dominantes que apenas fazem diagnósticos de necessidades e não se centram nas forças são ineficazes”, alertou.
Outra mais-valia do MAIFI, cujo planeamento foi avaliado por especialistas nacionais e internacionais, é o facto de, pela primeira vez, combinar o trabalho clínico com as preocupações sociais, educativas, comunitárias e forenses. Esta aliança entre as preocupações clínica e forense é particularmente inovadora e essencial para a tomada de decisão, tornando o processo mais respeitador da família, porque a investigadora entende que não basta aumentar rendimentos ou ensinar competências parentais, pelo que é preciso apoiar a família para que seja forte, coesa e unida.
A investigação, financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, resultou na tese de doutoramento de Ana Teixeira Melo. Uma equipa que trabalha no terreno, desde 2007, em Murtosa, apoia 23 famílias. Fonte destas equipas disse ao i que as pessoas auxiliadas pertencem a famílias que, por “algum motivo, têm muitos desafios” e pertencem a diversos extratos sociais.


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